A quantidade de moedas e o padrão das transações na rede bitcoin são mantidos através de um consenso entre os nodos que validam o código. Esse consenso é mantido pela esquematização brilhante de teoria dos jogos aplicada por Satoshi Nakamoto ao criar o sistema.
Utilizando-se do auto interesse humano, bitcoin é validado voluntariamente por centenas de milhares de pessoas rodando nodos, interessadas em manter a política monetária do ativo no formato atual, pois é com essas regras que elas detêm propriedade dentro da rede.

O conceito de dinheiro eletrônico (e-cash) não é novo, tendo sido pauta de discussão e projetos por parte de cypherpunks e criptógrafos desde os anos 70. Entretanto, todas iniciativas para a criação sofriam com o risco de ataque por parte das instituições ameaçadas por possíveis disrupções no sistema monetário vigente. A inovação do Satoshi foi juntar as diversas ideias desses projetos em uma combinação inovadora, que permitiu a descentralização do sistema.

Uma narrativa que perdurou por muito tempo era a de que o bitcoin seria utilizado para comprar cafezinhos. Dado o fato de que as transações são registradas na blockchain com um intervalo médio de 10 minutos e com um limite significativo de transações, comparado com redes como as da Visa e Mastercard, não haveria incentivo econômico aparente em usar bitcoin para consumo diário de baixo valor.

Por isso mesmo em 2017 houve uma divisão entre mineradores de bitcoin e usuários que rodam nodos (node runners), responsáveis pela validação das transações. Alguns Mineradores propuseram alterar o código do sistema, para permitir blocos maiores que conseguem processar mais transações por segundo, o que exigiria que os nodos tivessem mais capacidade de armazenamento, tornando-os mais caros. A alteração foi efetivada somente em uma rede paralela (fork), mas a base de usuários e o capital investido permaneceram no Sistema Bitcoin original. Hoje, a versão da rede paralela chama-se Bitcoin Cash (BCH), que detém hoje menos que 1% do valor que consta na rede original (BTC).
A disputa entre alguns mineradores e usuários demonstrou a importância da camada base (blockchain) ser preservada de alterações, pois é justamente a sua imutabilidade que permite que ela atraia e retenha valor. Mas isso quer dizer que bitcoin não vai servir para comprar cafezinhos?

Antes de responder à questão do café, devemos analisar a utilidade da camada base. Se ela é verdadeiramente finita, sua comparação mais natural é ouro físico. Com algumas grandes diferenças: sua capacidade de “teletransporte” e o fato de que não haverá mais do que 21 milhões de unidades de bitcoin, tornando-o verdadeiramente escasso, enquanto ouro é relativamente escasso. A camada base de bitcoin é tão sólida e constante que ela permite a construção de novas camadas de sistemas usando-a como fundamento. Exemplos dessas redes de “segunda camada” são a Lightning e a Liquid.

Rede barata de pagamentos P2P: Rede Lightning

De forma a resolver o “problema do cafezinho”, outro projeto de código aberto foi desenvolvido pela comunidade bitcoinheira: a Rede Lightning, uma “segunda camada” que serve para transferir bitcoins na velocidade da luz de forma praticamente gratuita, permitindo assim, compras instantâneas. Hoje em dia, a rede também vem sendo utilizada para o mercado de remessas internacionais, tanto por empresas como por indivíduos que emigram. A rede pode ser utilizada como infraestrutura para transações mais baratas e rápidas que a rede SWIFT, operada pelos bancos centrais estatais.